segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

(Só) ou Que poeira leve


"Na vida, quem perde o telhado, em troca recebe as estrelas".


Começa assim uma linda música de Tom Zé, descoberta num momento muito significativo. O nome da música é "Solidão", e pode ser conferida em algum lugar aqui à direita, numa antológica gravação pro Ensaio da TV Cultura. Não. Não estou sozinha. Não mais que você que lê isso agora. Estou é desenraizando. Viver, além de muito perigoso, Guimarães, é uma dessas duas coisas: você está enraizando ou você está desenraizando. Há quem passe a vida a enraizar - semeador dedicado, húmus constante de matéria viva, casa, comida, roupa suja, cachorro parcelado em 12x no Visa e uma certeza inteira de residência fixa.

Capaz que uma boa metade dos mortais ocidentais creiam ser o curso "natural" da vida a penetração viva das certezas em terra firme e segura. Isso quer dizer que você nasce, cresce e, quando está prestes a reproduzir, passa também a "vencer na vida". Casa e vai pra casa, uma vez encontrada sua "alma gêmea" e o emprego dos seus sonhos. Trocar de carro, moto, jumento, macarrão de domingo com mãe, vó e as crianças.

Do lado de lá, estão os outros. Aqueles que "erram" e parecem persistir no erro: os incapazes de assumir a santa responsabilidade: loucos, malandros, artistas, bêbedos e mochileiros, flâneurs, nietzsches, artistas de rua, vagabundos, descasados, mães solteiras. Desenraizadores, enfim.

A bombordo ou estibordo seguimos na nau.

Será que ainda desenraízo?

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