segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pazuzu e a escrita

Este post estava quase todo escrito há meses mas, curiosamente, alguma coisa me fez parar antes que o texto terminasse! Hoje mando-o embora: VADE RETRO!
Com ele, vão-se legiões... Que venham as próximas.

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Não comecem por me excomungar antes que eu tenha tido a oportunidade de explicar porque resolvi falar do que vou falar. Trata-se de demônios. Tranquilo, tranquilo. Nada demais. Acredito que nos parece espinhoso, uma afronta, matéria de pesadelos noturnos falar de demônios e exorcismo porque desde muito cedo aprendemos que falar destas coisas implicaria evocá-las. Imaginem só isso.  Eu mesma, particularmente, não acredito neles. Mas que existem, existem! A questão é que, crentes ou não, sabemos que Deus é (ou muitos querem que seja) um só, e os demônios são muitos, muitos mesmo. Aí me parece, de toda maneira, mais difícil de duvidar das coisas que existem em maior quantidade, não me perguntem por quê. 
O demônio assírio Pazuzu.









No cristianismo, demônios são aqueles (anjos) que entraram nessa por inveja, por querer "dar uma de Deus". Mas a tradição grega traz uma acepção mais interessante: sem querer entrar em mérito de tradução do grego clássico, o termo daímon guarda, sem dúvida, estreitas relações com o que conhecemos hoje por demônio, sendo a eudaímonia traduzida frequentemente por felicidade, o ser tomado por um "espírito" ou "entidade". Que raios de caminho genealógico teria este termo percorrido para passar de felicidade a espírito maligno, eu não sei. Os demônios que escrevem este blog estão mais interessados em perguntar pela escrita simplesmente, pela palavra, sempre a palavra. O que teria ela a ver com os demônios, eles existindo ou não? Imaginem agora aquelas forças que nos movem. Disso todo mundo sabe. Claro que todo mundo chama de uma coisa diferente. Um dia, resolvi aceitar que se tratam de demônios, aqueles que, para além do bem e do mal, povoam meu espírito (considerando que eu tenho um) provocando verdadeiras revoluções, me levando a experiências sensitivas, literárias, etílicas, amorosas, filosóficas e, pasmem, até performáticas (essas, claro, poucos puderam presenciar! Ainda bem.) 

Lilith pelo pré-rafaelita John Collier.

Sabem o que descobri recentemente? Que Pazuzu, o grande demônio assírio que fez fumegar, vociferar, e excretar verdumes a pobre Linda Blair no filme "Exorcista", tirando o sono de muita gente, lembram?  Provocando toda sorte de mal na humanidade... Pois bem, Pazuzu era também demônio protetor. Creiam. Era usado como amuleto por mulheres grávidas que se valiam do nosso caro demônio para proteger seus rebentos da ainda mais demoníaca Lamashtu  (essa sim! Além de demônio era mulher! Medo.) (Lilith?) temida por devorar tenros bebezinhos logo após o nascimento. Pazuzu é maior. Quem diria. Deixar demônio se engalfinhando com demônio e nesse meio tempo cuidar de nosso próprio exorcismo: aquele da escrita. Só quem já expurgou e verdejou excrescências pela palavra viu que os demônios saem também por ela. É difícil e inquietante, e excitante e cru porque registra e expõe e dá forma e está lá aquela figura horrenda saída do fundo dos infernos do seu imaginário tornada palavra redentora...  Não importa o quão feio e tenebroso seja: passou. Já foi. Esse já era. 

Assim seja. Evoquemos legiões inteiras sem medo! E preenchamos nosso espírito com a felicidade eudaimonica da escrita! Pazuzu é maior.