segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O casamento da senhora baratinha e a liberação feminina

"Quem quer casar com a senhora baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha? Ela é vaidosa e quem com ela se casar, terá doces todo dia, no almoço e no jantar". Eu tava relembrando esse mimo de infância com minhas irmãs e meus botões e fiquei de cara com o conteúdo adulto que acaba sempre vindo nas historinhas que a gente ouve quando está aprendendo coisas sem saber que está aprendendo. Tenho horror de barata! Como quase toda mulher. Pânico! Entomofobia mesmo... E não é que está na história desse bichinho horroroso, vai-se lá saber se propositadamente ou não, todos os elementos do que chamamos, desde meados do século XX, pelo menos, de liberação feminina?! Bom, vamos ver se eu estou exagerando. A primeira coisa que vocês poderiam me dizer é: como assim, amiga? A barata está querendo se casar, desesperada por um noivo. O que isso tem a ver com liberação feminina? Gente... a barata tem dinheiro na caixinha!! Ela está melhor do que eu! Do que muitas de nós. Se ela procura um noivo é porque está a fim mesmo, não? Atire a primeira pedra a mortal que jamais quis isso pra si. A aconchegante companhia masculina diária e até, com o perdão das feministas,  a sensação de proteção, de segurança, enfim. Acredito que a tal liberação feminina não tem necessariamente a ver com a opção pelo casamento, se assim a barata quiser... O importante é que ela quer e pode! E é o que a barata faz. Bota fitinha no cabelo (ahhh! Joga de novo uma pedra a mortal que nunca colocou fitinha!) e vai lá no barzinho, digo, na janela, escolher um noivo. E como ela "bota banca"! Essa barata danada, vaidosa e sem-vergonha tem casa própria, conta-poupança  e ainda algum sobrando pro supérfluo. Quem não ia querer essa barata! Os pretendentes se aproximam e querem corresponder, coitados, à expectativa de tão deslumbrante e bem-sucedida "inseta". E alguém lembra como é que se dá o processo? Tá aí o link do vídeo no início da postagem pra todo mundo conferir. Olha o naipe da pergunta depois da investida do boi: "-Diga primeiro, boizinho, como é que você faaaaaaaz?" Ahhhh faça favor... Essa barata só casa experimentando antes! Só tem um detalhe: a D. Baratinha é muuuito sensível e tem medo de tudo, só não de barata! Nem de marido pra matar barata precisa! Bom, mas quer casar ainda assim, deixa ela. E com muuuito medo dos desejosos mugidos e relinchados dos primeiros pretendentes, acaba por escolher o Dr. João Ratão que, apesar do nome, não assusta ninguém. Vamos fazer então um balanço: nossa barata super-moderna-liberada-sexualmente, cheia da bufunfa na caixinha oferece doces tooodo dia àquele cavalheiro que não lhe venha com muitos "agachados" (como se dizia no tempo de solteira da minha mãe), assim sem muito chamego, muita "pegação", a gente poderia dizer. Só mesmo no docinho, todo dia. E é aí que, curiosamente, o Dr. João Ratão começa a pensar em toucinho. Já viu. O cara casa e desembesta a comer. Ainda mais numa condição dessas. Pois o ratãozinho nem ainda casou e já começou a ponderar ali... doce todo dia? Aquela barata com medo a noite inteira... quer saber eu quero é feijoada! E se estatela dentro do caldeirão. Caramba. É triste e definitivo. Nem o perfume de jasmim da Baratinha pra fazer esse rato desistir do toucinho, cervejinha, os amigos, bar, e por aí vai a valsa. Mas a moral da história está lá. Firme e forte com a barata. Pra feminista nenhuma botar defeito. Traiu, morte nele! Foi aí que eu pensei: no meio de tantas princesas esperando beijo pra serem desenfeitiçadas, e temerosas chapeuzinhos ameaçadas, houve lugar na nossa infância pra vingança feminina. Bom seria se nesse movimento a gente tivesse aprendido também lá no inconscientezinho de pirralha, a não revelar assim tantos medos e, sobretudo, nunca, nunca, jamais! Cair na besteira de oferecer a alguém doces tooodo dia, no almoço e no jantar.     

Nenhum comentário:

Postar um comentário